Foi uma mistura de festa rave com beira de praia... altamente despolitizado e monótonamente governamental(Governos, Ong's, Partidos & seus correligionários), enfim, uma chatice só....
Nunca tinha participado de um Fórum Temático em minha vida. Na verdade, nem sabia exatamente o que era. Minha experiência de Fórum Social tinha sido em Belém, em 2009, quando pude participar como ouvinte(e olhante), daquele belo espetáculo do pensamento alternativo mundial. Lá, ví gente de tudo quanto é canto do mundo, de várias crenças, de inúmeros movimentos, de diversos pensares e agires, mostrando orgulhosamente suas culturas, suas causas, seus sonhos e sendo vistos .... e aplaudidos... Aqui em Porto Alegre, eu tinha a expectativa de que não seria muito diferente disso, talvez até melhor, afinal, o Fórum ocorreria na sua cidade natal, aonde havia sido gerado e nascido já há alguns anos, tempo suficiente, achava eu, para termos uma geração socialmente educada na cultura altermundista.... mas, a coisa não foi bem assim, infelizmente...
Primeiro porque a organização do evento deixou muito a desejar... atividades descentralizadas em vários locais, distantes uns dos outros, dificultando o ajuntamento, lembrando aquela velha máxima capitalista: "dividir para dominar".... Além disso, era uma falta de informação e de cuidado com os participantes generalizada... e falo porque sentí na pele, pois os que faríamos atividades autogestionárias(ou seja, bancando tudo do próprio bolso) não sabíamos nem mesmo em que lugar fazer... no meu caso específico, cheguei ao Acampamento InterContinental da Juventude com minha bagagem cultural(composta pela barca das letras e por mais 5 mochilões) e fiquei esperando por cerca de uma hora a definição da tenda que eu faria a instalação da NossaCasa de Cultura da Amazônia.... e isso aconteceu também com outros movimentos culturais, com os quais pude conversar posteriormente.... fora isso, tive que carregar sozinho toda minha bagagem cultural já que o voluntário prometido pela (des)organização não estava por lá.... o que foi, sem sombra de dúvidas, uma lamentável falta de respeito, de gentileza, de hospitalidade com aqueles que se dispuseram fazer trabalho voluntário durante o Fórum e, que em muitos casos, deslocaram-se de tão longe... gentes simples, "desconhecidas" do mundo "global", porém, guerreiras, lutadoras e respeitadas localmente, nas tão famosas "bases", termo comumente utilizado pelas gentes de partidos políticos, sobretudo, os ditos de "esquerda"...
Em segundo lugar, o FST 2012 teve um número de pessoas bem aquém da multidão que esteve na Amazônia.... não que eu seja afeto à multidões, muito ao contrário, até prefiro qualidade à quantidade... Mas, nas belas manhãs e tardes ensolaradas de Porto Alegre, nem um dos dois quesitos foram preenchidos... As gentes presentes(ou não), em sua grande maioria, uma galera meio que desconectada com o que estava acontecendo (ou era para acontecer ali) estavam mais pra badalar, beber, fumar, passear, transar e blá blá blá do que para pensar e, principalmente, praticar um outro mundo possível, solidário, urgente e necessário, alternativo à crise capitalista posta, às injustiças sociais e ambientais impostas pelo atual sistema...
Aaaahhhh, mas, devo confessar viu, tirei esses desafios e essas ausências todas de letra, já que essa situação era "fichinha" frente às maresias do Rio Amazonas, as quais sempre enfrentamos, alegremente, para levar a leitura às nossas crianças do Rio Macacoari...é como dizemos por lá, na beira do rio, isso aí é "galho fraco", nem esquentei...
Então, tendo esse cenário ao fundo, tive que me desdobrar, fazer muitas artes visuais e palhaçadas, tudo estratégicamente integrado, para atingir meus objetivos no FST 2012, quais sejam, desesconder as comunidades ribeirinhas da Amazônia por onde já mochilei(Amapá, Pará e Roraima) e clamar por socorro e ajuda aos nossos povos da floresta em geral, sejam eles extrativistas, quilombolas, castanheiros, seringueiros, indígenas, pescadores, agricultores familiares. Afinal, vamos combinar né, juntos e misturados, são os povos tradicionais e originários que, apesar de tanto abandono e opressão, em sua grande maioria, resistem e ainda mantém a floresta viva e em pé, gerando o alimento físico e espiritual para aqueles que vivem nas cidades, cujos modos de vida degradam, poluem, consomem em demasia e sujam de sangue e petróleo a mãe Terra, a pachamama...
E nem precisamos ir muito longe para exemplificar: os próprios "habitantes" do tal Acampamento da Juventude deixaram seus rastros de sujeira pelo chão, espalhando lixos diversos, dando muito trabalho aos garis e matéria-prima suficiente para nossos varais da ecoconsciência da nossa instalação LixoCultural Sonoro, que muitos deles nem repararam, não viram, não ouviram, de tanto que seus olhares miravam seus próprios umbigos e seus ouvidos ocupados por barulhos vindos de megafones que cantarolavam músicas do tipo "delícia, delícia, delícia, assim você me mata..." ou "tá ficando atoladinha..." ou, ainda, o último lançamento do Domingão do Faustão, a paraense Gaby Amarantos, com seu "batidão tecnobrega", ecoando seu sucessão "Ela tá beba doida" de arrebentar os tímpanos....
Mas enfim, já que eu estava na chuva, às margens do Rio Guaíba, então resolvi me molhar mesmo.... Como havia proposto à organziação do evento, montei nossa instalação NossaCasa de Cultura da Amazônia. Claro que, mais uma vez, não o fiz sozinho...afinal, ninguém é uma ilha... E por sorte, novamente, a regra confirmou-se: sempre há exceções.... Então, logo encontrei um grupo de pessoas na mesma energia que me ajudaram durante os dois dias, tanto na montagem, como no meu cuidado, afinal, os que me conhecem sabem que quando estou em ação, se não me derem água eu morro de sede, de tão envolvido que fico durante o processo de vivência da NossaCasa... Mas, graças aos meus ancestrais, aos deuses, santos e orixás, apareceram os anjos rebeldes que fizeram todo o sacrifício de ir a Porto Alegre valer a pena.... e, por isso mesmo, eu sou muito grato:
ao jovem casal Ana e Juarez, ela gaúcha, ele catarinense;
à gaúcha Simone e sua família;
aos gaúchos Paulo e seu companheiro Edson;
às lindas crianças goianas de Pirinópolis, filhas do Dalto, que passaram o dia brincando e animando a NossaCasa;
aos jovens documentaristas curitibanos Mateus e Gabriel que me fizeram chorar(de emoção)
ao jornalista Filipe Prestes pela divulgação na mídia local(http://sul21.com.br/jornal/2012/01/juventude-o-palhaco-ribeirinho-e-a-nossa-casa-de-cultura-da-amazonia/);
ao Marcelo,que me fez experimentar o chimarrão, fazendo questão de frisar que era uma bebida indígena;
à galera da TV Educativa do RS por oportunizar espaço para divulgar as comunas ribeirinhas, altamente sustentáveis e ambientalmente vivas
enfim, a tod@s @s seres de luz que visitaram, doaram livros, escreveram cartas às nossas crianças ribeirinhas e vivenciaram a NossaCasa Casa de Cultura da Amazônia em Porto Alegre e que humildemente compartilharam os seus dizeres, saberes, fazeres, sonhares, cantares, olhares.... minha (e)terna gratidão... e, claro, minha gratidão ao meu amigo de caminhada arte-literária Edgar Borges, do Coletivo Arteliteratura Caimbé, por ter compartilhado a exposição foto-poemas de Roraima, possibilitando assim visibilidade aos povos indígenas de Raposa Serra do Sol... valeu meu mano índio!!!
Jonas Banhos
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